terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Fragmentada

Há muitas maneiras de ser infeliz.
Já ser feliz é um sentimento todo um.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Internada

Ó mãe de todos nós, mão dura, pele áspera,
não partas, eu te peço,
palavra seca, peito murcho, espírito
que atravessa os tempos, velha rocha
batida pela chuva, castigada pela ventania,
resiste mais estes sóis e luas que,
a sétima de tuas crias, resistirei também.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

toda a vida

Não há nada a se fazer quando longe não é um lugar.
Não há como pegar um ônibus, mototáxi, bicicleta, nada. Longe
é por dentro, um qualquer que não se chega, por mais que não me
alerde, por mais que azule, por mais que avexe, por mais
que siga em frente toda a vida, longe, é espalhado infinito
arrodeando indo e vindo, longe é uma brecha onde se perdem
langanhos, longe, é claro escuro, as vezes escuro que assusta,
as vezes, luz que cega, de toda forma encandeado, longe, as vezes
quem tá do lado longe é bem aqui.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Nada além

Uma pessoa não é uma coisa só, em sua curta vida. Uma pessoa não é um nome, não é a profissão,
não é um senão, uma pessoa não é marido, esposa, filho, pai, mãe de alguém somente. Uma pessoa não é para o outro. O outro não é para uma pessoa. Uma pessoa é para si, é para o mundo, é para nada.
Uma pessoa existe para além. Uma pessoa não é um pote que tudo recebe, uma pessoa não é um vaso que tudo despeja. Uma pessoa existe. Mesmo que não pense, mesmo se só sente, uma pessoa é.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

isaque nasceu há um mês. 
quem o pariu o abandonou, 
outra o deu à luz.
e a luz parece pouca sempre pouca.
a cada dia isaque mergulha mais e mais 
numa gorda escuridão sem nome.
o que ele tem ninguém sabe.
o que ele não tem




da v, para mim. você disse o meu silêncio..

quinta-feira, 8 de março de 2012

A ver o tempo

Há 3 dias chove, águas, lembranças,
preocupações. Entre os dedos não há
membranas, penso desconsolada,
o céu é turvo. Tudo cinza neste
sertão líquido.
Um dia, seremos todos seres aquáticos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Brigadeiro

Pôs as dores na panela
com açúcar a mexer com
colher de pau, a raspar
o fundo da panela para não queimar.
Não pôs cravo para dar bom cheiro,
nem erva doce, para marcar o sabor.
Depois, embolou um a um na palma de sua
mão e pôs na janela.
O cheiro entrou pelas frestas escuras,
pelas réstias de luz e sombra. O
Espírito em seu coração saboreou
e sorriu. Sentaram juntos e comeram
calados.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Anti-suspiro

A palavra foi arrancada
nada restando, senão fonemas atordoados
perdidos no chão do momento.
O grito, o murmúrio, o lamento,
qualquer coisa para substituir
não deu conta a dizer.
Dizer é importante.
Não dizer também.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Desconsolação

Na Ceará, uma pessoa anda para
lugar nenhum fora e dentro de si.
Nada vê, nada sente, tudo olha.
Na Getúlio Vargas, a longa subida
e descida é dentro de mim que mergulha
a poeira, o calor e a chuva.
Na Dias Martins, a agonia,
ida e volta de loucos, a mentira
escondida, a palavra perdida,
tudo, tudo virou pó e água e então lama.