As crianças já haviam jantado. Peixe frito com farofa e arroz. O mais novo, bolachas mergulhadas no café com leite. Ouviu o barulho do batelão a se aproximar do porto improvisado no barranco. As chuvas já haviam começado, o rio já tomava água novamente. As veias de Deus no mundo. O barulho cessou. É ele! virou-se para o mais velho: cuida dos teus irmãos, que vou ver se é o teu pai! Calçou as sandálias de couro que ele lhe dera no ano passado, pulou para o terreiro e dirigiu-se depressa para o barranco. Chegou a tempo de vê-lo desembarcar as ultimas caixas. Desceu para ajudar a trazer as coisas que pudesse. Um abraço desajeitado, um beijo no rosto e outro na testa.
- Como vão as coisas?
- Tá tudo como Deus manda.
- Então tá bem.
No chão, uma saca de açúcar, uma de feijão, uma de arroz. Caixas de leite, café, jabá, bolachas, velas, fósforos, sal, alhos, pimenta-do-reino, algumas cobertas embrulhadas em plástico, dentro de sacolas.
Levaram as coisas com a ajuda do barqueiro. Ainda haviam pessoas para deixar ao longo do rio. Deu uns trocos para pagar a passagem e se despediu. No terreiro, as crianças o cercavam. Um beijo na testa em cada um. Tirou do paneiro dois pacotes. Dois carrinhos de plástico colorido, duas bonecas em miniatura. Risos e alegrias.
Outro pacote, em papel pardo rosa. Estendeu para ela. Curiosa, rasgou o papel… um corte de linho e linhas na cor do tecido. Sorriu, satisfeita. Subiram para casa, ela acendeu as lamparinas, porque a noite já se achegava. Aqueceu a comida e fez um prato para ele. Serviu café para os dois e tomaram, entre silêncios e afetos. A vida voltando ao normal.
Essa linguagem simples e bem escrita vai levar ao leitor a buscar no seu imaginário a riqueza que carrega o viser de pessoas simples e marcada por sofrimentos, força destemida e muitas alegrias, principalmente àqueles que vivenciaram época nesse cotidiano peculiar ao qual se refere,
ResponderEliminarestou fora de casa. e procuro seu texto. seu sempre lindo texto. um beijo. v.
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