sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Uma da tarde
Tentava descansar e não sabia como. Virou sobre si, como que a espera de se surpreender. Silêncio e vento nas palhas que cobrem a casa. Os meninos brincam no terreiro, aproveitando que é verão. Já o roçado estava posto, a espera das chuvas, as galinhas e seus ovos, a espera da lua certa. Mais de duzentas, vingaram de um casalinho de pintos que a dona do seringal não quis. Tem gôgo, não vão sobreviver, disse ela. Eu que sei, que na mão de quem precisa, o inesperado se faz. O galo canta às duas da tarde. Desconhecia coisa mais triste do que o canto do galo no começo da tarde. Parecia lembrar a agonia, a rejeição, a solidão do sofrido corpo. Não se afastem pra beira da mata, cuidado com as cobras! O terreno em volta da casa era tão limpo que havia uma faixa circular, com a casa de palha ao centro, em que se via a terra e seu pó branco. Para ver coisas rastejantes ou andantes estranhas. O que não se via, normalmente era alardeado pelo terror das galinhas todas a cacarejar ao mesmo tempo, como quando anunciaram a pico-de-jaca enrolado sob o esteio da casa. A vida cresce, entre árvores grandes e pequenas, o viver de gente tentando ultrapassar aquilo tudo. A mata encantada. É preciso respeitar sua não humana gente. Cantos, olhos, luzes, ali tudo. Coisas que não se vêem, coisas que se transformam, coisas a cumprir sua existência milenar, bem ali. Ela só queria cumprir a sua. Longe, o som de um pequeno batelão força passagem nos bancos de areia do rio quase sem água. Vão precisar de um varejão. Adormeceu.
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